Fundador de grupo para “cura de homossexuais” chama Silas Malafaia de idiota
Juntamente com João Luiz Santolin e Liane França, o professor de inglês, filosofia e teólogo carioca Sérgio Viula, 42 anos, foi um dos fundadores do Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses). Trata-se de uma ONG evangélica que tem como objetivo ajudar pessoas que desejam deixar de ser gay.
Ele conta que teve seu primeiro relacionamento homossexual aos 12 anos e aos 16 ingressou em uma igreja neopentecostal, passando depois para uma igreja batista, onde chegou a ser pastor.
Ainda adolescente Sérgio aderiu ao programa de restauração e abandonou a homossexualidade. Casou, teve dois filhos e acompanhava de perto os métodos de reorientação sexual usados pelo MOSES.
Porém, ele acredita que essas ações em busca da mudança de orientação sexual não funcionam e apenas causam dor a quem se submete a elas. Hoje, é um crítico desse tipo de programa: “Na verdade, ex-gay não existe, é pura auto-sugestão. Eu comecei a ir à igreja e percebi que os homossexuais não tinham como lidar com suas dificuldades, por falta de orientação das lideranças, então decidi fundar o Movimento pela Sexualidade Sadia. Foi aí que comecei realmente a dizer em momentos oportunos que era ex-gay”.
Sérgio trabalhou no MOSES de 1997 a 2003. Porém, entende que o grupo realizava um tipo de “lavagem cerebral”. Ele acredita que apenas enganou a si mesmo pensando que sua atração por pessoas do mesmo sexo poderia desaparecer apenas com orações e dedicação a Deus.
“Você tem que se isolar do seu antigo círculo de amigos, começar a se enfiar nas reuniões da igreja, fazer sessões de aconselhamento, orar, jejuar, essas coisas. Quando acontecia de alguém se envolver com outro homossexual, ele tinha que confessar o que fez. No grupo, basicamente, pensávamos que ser gay fosse pecado, que devia ser confessado e abandonado. Para isso fazíamos proselitismo, aconselhamento, oração, pregação, recomendávamos certos livros, leitura bíblica, coisas que os crentes geralmente fazem, mas com foco na homossexualidade, sempre demonizando a homo afetividade, infelizmente”, relembra Sérgio.
Depois de 18 anos envolvidos com a igreja evangélica, Sérgio resolveu se assumir gay de vez depois de uma viagem à Cingapura, quando ficou com um filipino.
Ele lembra que não foi fácil se desligar, “Houve perseguição por parte do MOSES, muita gente ficou em choque. Mas meus filhos nunca criaram problemas”. Ele conta que a filha de 12 e o filho de 11 tem um bom relacionamento com ele e seu atual parceiro, Emanuel.
Questionado sobre a posição do pastor Silas Malafaia que é um dos evangélicos mais combativos da causa homossexual, ele não poupa críticas. “Ele é um idiota! Atua na base da má-fé mesmo, com interesses financeiros, projetos de poder, etc. E diz ele que nunca foi gay, será? Fico muito desconfiado de gente que gasta tanta energia e dinheiro para combater algo que não tenha nada a ver consigo mesma. Entendo heterossexuais que compreendem os riscos da homofobia, mas não entendo heterossexuais que quase surtam só por saberem que os gays estão felizes, saudáveis e produzindo para o país…”
Sérgio conta ainda que depois de assumir sua condição, muitas igrejas o convidaram para que ser pastor, inclusive a Comunidade Metropolitana, conhecida pela defesa dos homossexuais.
Contudo, Sérgio não aceitou e explica que abandonou o ministério não por causa da sua sexualidade, mas principalmente por não crer mais em Deus: “Nem deus, nem escrituras, nem igrejas passam pelo crivo da razão, e não me refiro à razão de uma mente brilhante como a de Nietzsche, Darwin, Sartre, Hopkins, Dawkins, etc., refiro-me à razão de uma mente mediana como a minha. Não posso ir contra mim mesmo e contra aquilo que enxergo tão distintamente. No entanto, defendo a liberdade. Por isso, crer e não crer são coisas que não podem ser controladas, coibidas, exceto quando colocam os direitos humanos em xeque”.
Ano passado ele lançou o livro “Em busca de mim mesmo”, onde relata que “sair do armário” foi a decisão mais acertada da sua vida, e pretende contribuir para que outras pessoas façam o mesmo, principalmente aquelas oprimidas por motivos religiosos”.
Questionado sobre o que diria aos gays que buscam ajuda nas igrejas ele é enfático: “Conversão religiosa que não admite sua homossexualidade não merece seu tempo e talento”.