LIÇÃO 03 – APRENDENDO COM AS PORTAS DE JERUSALÉM
INTRODUÇÃO
Quando Neemias perguntou a Hanani pelos judeus que restaram do cativeiro, e por Jerusalém, ele lhe
respondeu dizendo: “... os restantes, que não foram levados para o cativeiro, lá na província estão em
grande miséria e desprezo, e o muro de jerusalém, fendido, e as suas portas, queimadas a fogo” [(Ne 1.3)
grifo nosso]. Assim, o grande desafio de Neemias não era apenas edificar os muros de Jerusalém, mas também,
suas portas.
Por isso, ele disse ao rei Artaxerxes: “Como não estaria triste o meu rosto, estando a cidade, o
lugar dos sepulcros de meus pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas portas a fogo?” [(Ne 2.3)
grifo nosso]. Nesta lição aprenderemos, não apenas sobre as portas de Jerusalém, mas também, o que elas
representam para nossa vida espiritual.
I – AS PORTAS NOS TEMPOS BÍBLICOS
A arqueologia nos mostra que as portas dos tempos bíblicos variavam de acordo com a época, o tipo de
construção e as posses do construtor. Geralmente, elas eram feitas de bronze (Sl 107.15,16), de ferro (At
12.10), e de madeira (Ne 3.6).
1.1. As Portas de Jerusalém. O capítulo três do livro de Neemias descreve a edificação dos muros e das portas
de Jerusalém. Neste capítulo, percebemos claramente o esforço, entusiasmo e ação conjunta, não só de
Neemias, mas de todo o povo para trabalhar, inclusive, sacerdotes (Ne 3.1,21,22,28), mulheres (Ne 3.12),
mercadores (Ne 3.31), e ourives (Ne 3.31,32). Apesar das muitas oposições e dificuldades, o povo se empenhou
a trabalhar na restauração dos muros, mas também das portas, que impedia a entrada de estranhos, mas,
possibilitava o acesso àqueles que eram autorizados. E, por medida de segurança, colocaram também ferrolhos
e fechaduras nas portas (Ne 3.3,6,13,14,15).
1.2. A Metáfora das Portas. Porta é uma abertura para entrada e saída. No sentido espiritual, a Bíblia descreve
diversos tipos de porta, tais como: a porta da fé, que foi aberta também para os gentios (At 14.27); a porta da
oportunidade, para a propagação das boas novas de salvação (I Co 16.9;II Co 2.12); a porta da Palavra, aberta
para os pregadores do Evangelho (Cl 4.3). Metaforicamente, podemos dizer que cada pessoa tem uma “porta”
de acesso, onde Cristo bate à mesma (Ap 3.20) pedindo permissão para controlar a sua vida e conduzi-la à vida
eterna (Jo 10.9). Podemos afirmar também que, cada porta de Jerusalém, fala de um aspecto de nossa vida
espiritual.
II – AS PORTAS DE JERUSALÉM
Encontramos no livro de Neemias referência a diversas portas, onde cada uma delas nos ensinam sobre
um aspecto de nossa vida espiritual. Vejamos:
2.1. Porta do Gado (Ne 3.1,32; 12.39). Também chamada de Porta das Ovelhas (ARA), a Porta do Gado era o
portão usado para fazer as ovelhas entrarem na cidade em direção ao Templo, para o sacrifício. Foi a primeira
porta a ser restaurada, e nela trabalharam o sumo sacerdote Eliasibe e outros sacerdotes. Através desta porta,
aprendemos sobre a prioridade da restauração do culto ao Senhor. Não é à toa que a restauração das portas de
Jerusalém teve início com esta porta.
2.2. Porta do Peixe (Ne 3.3; 12.39). Possivelmente, esta porta recebe este nome porque através dela entravam
os comerciantes de peixe na cidade, onde havia um mercado próximo. Restaurar a Porta do Peixe tem o sentido
de restabelecer o compromisso com a Evangelização (Mc 16.15; At 1.8), pois, o próprio Senhor Jesus nos
chamou para sermos pescadores de homens (Mt 4.18-20). Mas, há um fato interessante a ser observado: Além
de restaurar a porta, os filhos de Hassenaá colocaram também fechaduras e ferrolhos. Isto nos ensina que não
basta evangelizar, mas também ensinar (Mt 28.19,20) e fechar as portas para heresias e filosofias humanas.
2.3. Porta Velha (Ne 3.6). Não sabemos ao certo o por quê desse nome. Possivelmente por tratar-se de uma
porta muito antiga. Mas, o fato de ser antiga não significa que ela não fosse importante. Por isso, ela também
deveria ser restaurada! Restaurar a Porta Velha significa valorizar as coisas antigas, como a Bíblia, por exemplo,
que, apesar de ser um livro tão antigo, jamais perdeu o seu valor, pois o tempo não exerce nenhuma influência
sobre ela. Ela continua sendo o livro mais lido, mais vendido, mais conhecido e mais traduzido em todo o
mundo. Como disse o profeta Isaías “Seca-se a erva, e caem as flores, mas a Palavra de nosso Deus
subsiste eternamente” (Is 40.8).
2.4. Porta do Vale (Ne 3.13). Esta porta dava acesso a um vale ao lado oeste de Jerusalém. Foi por ela que
Neemias iniciou e concluiu a inspeção dos muros de Jerusalém, antes de iniciar a reconstrução (Ne 2.13-15).
Vale é uma depressão de terra entre lugares elevados, como montes ou montanhas, por exemplo. Restaurar a
Porta do Vale significa reconhecer a importância dos vales em nossa vida. Isto porque todos nós nos deparamos
com muitos “vales” em nossa jornada rumo ao céu. Porém, o mais importante é saber que Deus está conosco,
ainda que estejamos no vale da sombra e da morte (Sl 23.4).
2.5. Porta do Monturo (Ne 3.14). Esta porta era aberta frequentemente para que os moradores levassem o lixo
da cidade para ser queimado no vale de Hinon. Restaurar a Porta do Monturo significa dizer que não devemos
permitir que o “lixo” deste mundo esteja em nós, pois já fomos lavados, santificados e justificados (I Co 6.11).
Isto nos faz lembrar a Santificação Progressiva, que ocorre no nosso dia a dia (Pv 4.18; I Pe 1.15,16).
2.6. Porta da Fonte (Ne 3.15). Esta porta recebe este nome porque dava acesso ao tanque de Siloé, onde,
centenas de anos depois, um cego de nascença lavou-se depois de Jesus untar-lhe lodo nos olhos (Jo 9.1-5).
Diversos usos figurados podem ser feitos sobre as fontes. Por exemplo: Deus é a fonte de todo o bem (Sl 36.9;
Jr 17.13); Tg 1.17); a graça de Deus assemelha-se a uma fonte (Is 41.18; Jl 3.18); bem como a Igreja (Ct 4.18; Is
58.11) e a Bíblia, que é a fonte inesgotável da sabedoria, e é a principal fonte para o ensino, pregação e prática
da vida cristã.
2.7. Porta das Águas (Ne 3.26). Esta porta ficava ao lado Oriental do Monte Sião, defronte da casa de Gion. Foi
diante dessa porta que Esdras leu o livro da Lei diante de todo o povo, desde a alva até ao meio dia (Ne 8.1-8).
A água purifica, refresca, sacia a sede, torna frutífero o estéril e é indispensável à vida humana. Ela é um dos
símbolos da Palavra de Deus (Jo 15.3; Ef 5.26) e do Espírito Santo (Jo 3:5; 4:14; 7:38, 39).
2.8. Porta dos Cavalos (Ne 3.28). Esta porta recebe este nome porque ficava próxima ao palácio, e por ela
entravam os cavalos do rei. Foi próximo a esta porta que morreu Jezabel (II Rs 11.16; II Cr 23.15). Na Bíblia
Sagrada, o cavalo é símbolo da força; e todos nós necessitamos, muitas vezes, de que as nossas forças sejam
renovadas. Restaurar a porta dos cavalos pode significar, então, restaurar a porta de acesso às nossas forças
espirituais, que são renovadas pelo Senhor, a nossa força (Is 40.29-31; Sl 22.19; 27.1).
2.9. Porta Oriental (Ne 3.29). O nome desta porta indica que ela ficava ao lado oriental da cidade. Depois que
os judeus retornaram do cativeiro, ela passou a ser chamada de Porta do Rei (I Cr 9.17). Oriente é o lugar onde
nasce o sol, e simboliza a esperança, o raiar de um novo tempo (Sl 84.11). Restaurar esta porta significa
resgatar a esperança a despeito de toda e qualquer adversidade (Jó 14.7; Sl 62.5; Rm 12.12).
2.10. Porta da Guarda (Ne 3.31). Também chamada de Porta de Micfade, esta porta ficava no nordeste de
Jerusalém. Possivelmente, tratava-se de uma torre de vigia onde ficavam os guardas de Israel. Essa porta não
poderia deixar de ser restaurada, pois, os inimigos de Neemias, além de tentar impedir a obra (Ne 4.8)
desejavam fazer-lhe mal (Ne 6.2). Por isso Neemias pôs guardas, mesmo durante a construção (Ne 2.21-23).
Isto nos ensina sobre a necessidade de uma vida de permanente vigilância na vida espiritual (Mt 26.41; 1 Pe
5.8-9).
CONCLUSÃO
Neemias foi até Jerusalém, não apenas para edificar os muros de Jerusalém, mas também as suas
portas, pois elas seriam o meio de acesso de entrada e saída da cidade. Por isso, seria inútil reconstruir apenas
os muros da cidade. Podemos observar nas páginas da Bíblia que cada uma delas recebe um nome, o que nos
permite fazer uma aplicação à nossa vida espiritual. Que possamos, então, tal qual Neemias, restaurar as
“portas” do culto ao Senhor, da evangelização, da Palavra de Deus, da santificação, da força espiritual e da
vigilância.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. CPAD.
BARBER, Cyril. Neemias e a Dinâmica da Liderança Eficaz. Vida.
BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. O AT Interpretado Versículo por Versículo. Hagnos.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Hagnos.
KIDNER, Derek. Esdras e Neemias. Vida Nova.
PACKER, J. I. Neemias Paixão Pela Fidelidade. CPAD.